PEDAGOGIA

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Geane Morais.

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quinta-feira, 12 de julho de 2012

DICIONÁRIO BREVE DE PEDAGOGIA LETRA V


Validade - Designa a qualidade que um teste deve ter para garantir que mede o que pretende medir.

Validade de conteúdo - Quando o investigador pretende saber se as tarefas apresentadas na prova constituem uma amostragem representativa de situações ou tarefas nas quais pode manifestar-se o tipo de comportamento considerado, o investigador interessa-se pela validade de conteúdo. Tem a ver com o grau de adequação dos itens em relação à dimensão do comportamento avaliada pela prova. Procura-se apreciar em que medida o conteúdo da prova, isto é, os itens, cobrem os aspectos mais relevantes do construto.

Validade externa - Refere-se ao problema da generalização dos resultados da experiência, em três aspectos, das populações, das situações e das variáveis às quais pode estender-se o efeito observado depois de um tratamento experimental.

Validade interna - A validade interna de uma experiência caracteriza a sua capacidade para provar a hipótese em função da qual foi concebida. Permite responder à questão de saber se os efeitos observados são devidos ao tratamento experimental ou atribuíveis a outras variáveis parasitas.
Validade preditiva - É sinónimo de valor prognóstico da prova e indica em que medida as previsões formuladas a partir de um teste se confirmam pelos factos verificados posteriormente.

Valores – São princípios de orientação da conduta, baseados em ideias que culminam em preferências motivadoras de uma dada conduta. Há valores absolutos e valores relativos. Os primeiros são os valores ideais e racionais. O carácter absoluto destes valores é mero corolário da sua racionalidade. Para esses valores aplica-se a definição: “valor é o carácter de uma coisa desejável aos olhos da razão”. Os valores lógicos e éticos são exemplos de valores absolutos. O carácter absoluto de certos valores traduz-se, na prática, no imperativo categórico de que algo, para ser valioso, há-de ser um valor para todos. Os valores relativos são os que variam consoante as circunstâncias e dependem da cultura e da sociedade. Exemplos de valores relativos: valores económicos, valores hedonistas, valores comunitários e valores culturais. Os valores absolutos não podem ser construídos pelo Homem, porque não dependem nem são
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condicionados pela esperiência. Esses valores só podem ser captados ou descobertos. O filósofo M. Vidal considera que se captam os valores de quatro formas: 1) por connaturalidade, vivendo num ambiente onde esses valores são apreciados; 2) por contágio, através do exemplo; 3) por recusa, como reacção contra valores desprezíveis; 4) pela ciência, mediante processos discursivos.
Ver Axiologia.

Valores morais - São categorias que indicam e prescrevem o dever ser. Dizem respeito a categorias que orientam as nossas escolhas morais. Há várias taxonomias dos valores. No que diz respeito aos valores morais, são conhecidas as posições de Platão e Aristóteles. Para o primeiro, os valores morais podem resumir-se numa única virtude: a justiça. Para Aristóteles, há uma pluralidade de valores morais. Sem querermos ser exaustivos, podemos indicar os seguintes: a coragem, a amizade, a moderação, a prudência e a temperança.
Ver Confúcio, Lao Tseu, Aristóteles, Kant e Kohlberg.

Variáveis - Termo que designa os factores ou características que o investigador manipula deliberadamente (variável independente) para verificar o seu impacto numa outra variável, a variável dependente. A variável dependente define-se como a característica que aparece ou muda quando o investigador suprime ou muda a variável independente. Para além das variáveis independentes e dependentes, existem também as variáveis moderadoras e parasitas. As variáveis moderadoras são as variáveis alheias ao estudo e que podem influenciar os seus resultados, invalidando as conclusões. As variáveis parasitas são as variáveis associadas à variável independente e que afecta os resultados da variável dependente através de processos de contaminação.
Ver Hipóteses.

Verney (Luis António) - Considerado um dos maiores pedagogos portugueses, Verney nasceu em 1713 e morreu em 1792. A sua obra-prima O Verdadeiro Método de Estudar é considerado um clássico da pedagogia e foi objecto de inúmeras edições nos últimos dois séculos. Para muitos, Luis António Verney é considerado um dos maiores iluministas portugueses.
Virtude - Conceito que designa um valor moral geral e fundamental. Também pode referir-se à disposição permanente e ao hábito para realizar actos morais e para fazer o bem. Embora este conceito fosse muito usado pelos moralistas clássicos e pelos filósofos gregos - nomeadamente Platão e Aristóteles - caíu em desuso nos nossos dias, nomeadamente entre os autores influenciados pelas teorias cognitivo-desenvolvimentistas. Continua, no entanto, a ser usado pelos autores mais próximos dos modelos de educação do carácter. Na Grécia Clássica, dizia-se que a principal finalidade da educação era formar pessoas virtuosas. Para Aristóteles, a virtude é um meio termo entre dois vívios que pecam, um por excesso, outro por defeito. Essa tradição foi retomada, na Idade Média, por Santo Agostinho e pelas escolas episcopais. Os jesuítas, a partir do século XVII, retomaram a ideia de uma educação para a virtude. Com o Iluminismo e, sobretudo, com o movimento da escola nova, começa a acentuar-se a ideia de uma educação para a cidadania, como substituto de uma educação para a virtude. Actualmente, as noções de bem e do mal e a defesa dos valores tradicionais têm vindo a ser substituídas, nas escolas, pela necessidade de formar os alunos para a participação nas instituições, para o desenvolvimento do espírito crítico e do inconformismo, por oposição à tradição. O abandono da defesa dos valores tradicionais,
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do tipo, honestidade, responsabilidade, respeito pelos mais velhos, obediência às autoridades, amor à família, lealdade, fidelidade, compaixão, humildade, modéstia e persistência, tem sido justificado pela recusa do doutrinamento na educação. No entanto, os autores que associam o ensino dos valores tradicionais ao doutrinamento não questionam o facto de os “novos valores” que propõem, do tipo, espírito crítico, inconformismo e individualismo, serem também veiculados e transmitidos através de processos de doutrinamento. O debate que hoje existe sobre se a escola deve formar os alunos para apreciarem o bem e levarem uma vida virtuosa é, em certa medida, determinado pelas posições ideológicas que cada um perfilha. Para aqueles que prezam a continuidade, os laços familiares, a segurança e a harmonia social, a educação para o bem e para a virtude, baseada no ensino dos valores tradicionais, constitui uma das grandes finalidades da escola. Para aqueles que prezam a descontinuidade, o conflito, a separação e o individualismo, não faz sentido integrar as noções de bem e mal no processo educativo, uma vez que a escola deve fomentar o relativismo moral e a diversidade de pontos de vista sobre o bem e sobre o mal. Sendo certo que as sociedades modernas são cada vez mais de natureza multicultural, talvez se imponha uma posição intermédia entre a conservação e a inovação, de forma que os alunos possam simultaneamente apreciar a diversidade cultural e respeitar um conjunto de valores básicos alicerçados na noção de bem e nas virtudes que a nossa civilização ocidental, com a sua matriz judaico-cristã, ajudou a criar ao longo dos últimos 25 séculos.
Ver Modelo de Educação de Carácter, Aristóteles e Platão.

Virtudes cardinais - Segundo a tradição grega clássica, há quatro virtudes cardinais: prudência, justiça, temperança e valentia. Esta ideia foi retomada, na Idade Média, pela ética cristã.

Visita domiciliária - As visitas domiciliárias são muito comuns em alguns distritos escolares norte-americanos e começaram a ser usadas em Portugal, no final da década de 90, integradas num conjunto de estratégias de aproximação das escolas às famílias em desvantagem social e cultural. Geralmente, são conduzidas por técnicos de educação ou mediadores contratados pelas escolas As visitas servem não só para fazer educação de pais, mas também para levar a informação dos professores para os pais e vice-versa.
Ver Tipologia de Joyce Epstein

Vives (Juan Luis) - Juan Luis Vives nasceu em Valença, em 1492, o ano em que a armada de Cristóvão Colombo saiu do porto de Palos, na Andaluzia, para a viagem de descoberta da América. O ano do nascimento do pedagogo valenciano foi também marcado por outro acontecimento extraordinário: a conquista de Granada pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel, com a consequente unificação de Espanha e o fim da dominação árabe na Península Ibérica. O século XV marcou o início de grandes transformações sociais e culturais na Europa: o renascimento faz a sua aparição nas cidades-estado italianas e os descobrimentos marítimos irão fazer de Espanha e Portugal centros de afirmação de uma nova civilização mercantil e cosmopolita. Em simultâneo, assiste-se a um renovado interesse pelos autores gregos e latinos, cujas obras são lidas e comentadas nas Universidades europeias. Este renascimento intelectual irá percorrer toda a Europa e manifestar-se-á não só na criação de mais Universidades para um público estudantil mais alargado, mas também no incremento do mecenato artístico e literário.
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Referindo-se à educação que recebeu da sua mãe, Juan Luis Vives afirma na sua obra A Instituição da Mulher Cristã: “Nenhuma mãe amou com maior ternura o seu filho do que a minha me amou. E nenhum filho se sentiu menos amado pela mãe do que eu. Quase nunca me sorriu; nunca se mostrou indulgente. E, contudo, durante uma ausência minha por três ou quatro dias, ignorando o meu paradeiro, teve um gravíssimo acidente, mas quando regressei a casa não soube que tivesse sentido saudade de mim. De nenhuma pessoa eu fugia mais e de nada eu sentia mais aversão do que da minha mãe quando era criança. E agora a sua memória é para mim sagrada e todas as vezes que sou assaltado pela sua recordação, embora o não possa fazer fisicamente, abraço-a e beijo-a com a mais doce das gratidões (Institutio Foeminae Christiana, II, XI). Aos olhos de hoje, a formalidade e reverência da relação de Juan Luis com a mãe parecer-nos-ia bastante condenável, senão mesmo conducente a desvios de personalidade. Contudo, essa formalidade e rigidez era típica de uma época que desconhecia a especificidade da infância e ignorava o período da adolescência. As crianças eram olhadas como pequenos adultos em miniatura com que se devia lidar com firmeza e rigidez para fazer delas, o mais depressa possível, membros produtivos da família.
A mãe de Juan Luis, D. Blanca March, era uma mulher devota, reverente, inteiramente dedicada aos cuidados da sua família, a quem dedicou uma vida feita de piedade, amor conjugal e reserva. A esse propósito, Juan Luis Vives recorda: “Blanca, a minha mãe, em quinze anos de casamento, nunca a vi zangar-se com o meu pai ou contrariá-lo no que quer que fosse...A Luis Vives, meu pai, ouvi dizer em muitas ocasiões...que nunca teve de reconciliar-se com a sua esposa porque nunca se desentendeu com ela” (Institutio Foeminae Christiana, II, V).
Para além do ambiente familiar reservado e marcado pela concórdia e reverência, Juan Luis beneficiou de uma escola de qualidade, da qual recorda momentos e situações agradáveis. A primeira escola de Juan Luis foi o “studium generale” de Valência, onde aprendeu latim, aritmética, gramática e retórica e onde teve os primeiros contactos com os clássicos. Adolescente, ainda estudou na Universidade de Valência, mas acabaria por dar continuidade aos seus estudos superiores na Universidade de Paris. De Paris guarda algum azedume face ao conservadorismo dos métodos pedagógicos, chegando mesmo a escrever um ensaio em forma de epístola, de crítica ao ensino na Universidade de Paris, a que deu o sugestivo nome de Contra os Falsos Dialécticos. Foi enquanto estudante da Universidade de Paris, em 1514, que escreveu a sua primeira obra: Triunfo de Cristo. Dois anos antes de escrever a sua primeira obra havia de conhecer a sua futura mulher, Margarita, durante uma visita à cidade de Brujas. Em 1519, com a idade de 27 anos já era professor na Universidade de Lovaina. Foi em Lovaina que travou conhecimento com Erasmo de Roterdão, o sábio renascentista que iria influenciar grandemente o seu pensamento. Em 1523, vai para a Universidade de Oxford ensinar Humanidades e Direito, onde a sua fama de sábio e pedagogo chega aos ouvidos da Rainha, uma compatriota sua, de nome Catarina de Aragão, mulher de Henrique VIII. A Rainha de Inglaterra tornou-se uma grande admiradora de Juan Luis Vives e fez dele conselheiro em tudo o que dissesse respeito à educação da sua filha, a futura Rainha Maria Tudor. A pedido da Rainha, Juan Luis Vives chegou mesmo a escrever uma tratado de pedagogia a que deu o nome de Pedagogia Infantil, a que acrescentou um opúsculo com o título O Companheiro da Alma.
Juan Luis Vives regressa a Espanha, em 1524, com 32 anos de idade, para casar-se com Margarita de Valldura, que conhecera uns anos antes, aquando de uma visita à cidade de Brujas. O regresso a Espanha foi de curta duração. Com efeito, no final do
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ano de 1524, regressa a Inglaterra para retomar as aulas na Universidade de Oxford. Nos anos que passou na Inglaterra, Vives trava amizade com Thomas Morus, conhecido por ter publicado a obra Utopia, em 1517. O contacto e a amizade com Thomas Morus leva Vives a reflectir sobre as causas da miséria e da pobreza, dedicando a esse assunto um livro a que deu o nome de Da Ajuda aos Pobres. A sua permanência na Inglaterra começou a ficar ameaçada a partir do momento em que Henrique VIII repudiou Catarina de Aragão. Juan Luis Vives colocou-se ao lado da Rainha e caiu em desgraça na Corte de Henrique VIII. Temendo pela sua vida, Vives regressa a Espanha, em 1528, passando a viver em Brujas, terra natal da sua mulher. Em Brujas, irá escrever a maior parte da sua obra: Da Concórdia e Discórdia na Espécie Humana; Tratado sobre o Ensino; Tratado da Alma; Exercícios de Língua Latina e; Introdução à Sabedoria. Ainda novo, Vives começa a queixar-se de uma doença muito comum na época: a gota. Em 1540, com a idade de 48 anos, Vives não resiste às complicações associadas com a gota e morre prematuramente. A sua mulher, Margarita de Valldura, morrerá dois anos depois. Encontram-se ambos sepultados na Igreja de S. Donaciano, em Brujas.
Juan Luis Vives deixou-nos quatro grandes obras pedagógicas: Introdução à Sabedoria; Exercícios de Língua Latina; Tratado da Alma e; Tratado sobre o Ensino.

Vygotsky (Lev) – Lev Vygotsky nasceu, em 1896, na Rússia, numa família judia da classe média. Aos 18 anos de idade, falava fluentemente russo, hebreu, francês, inglês e alemão. Formou-se em Direito na Universidade de Moscovo, em 1917. Em simultâneo, fez estudos superiores de História e Filosofia. De 1918 a 1924, ensinou literatura e psicologia no Instituto de Formação de Professores. Em 1924, foi convidado para ensinar psicologia na Universidade de Moscovo, onde permaneceu até à sua morte, por tuberculose, em 1934. Os escritos de Vygotsky foram banidos após a sua morte e só viriam a ser publicados, em 1956, com a abertura política iniciada por Krutchov. A mais conhecida contribuição de Vygotsky para a psicologia e a educação foi a sua teoria da zona do desenvolvimento próximo. De acordo com o psicólogo russo, as crianças possuem duas áreas de desenvolvimento. A área do desenvolvimento corrente inclui tudo o que a criança é capaz de fazer num dado período. Esra área prepara a criança para aprendizagens futuras na outra área. Em redor da área do desenvolvimento corrente está a zona que representa o nível de desenvolvimento no futuro próximo. Vygotsky chamou a essa zona a “zona do desenvolvimento próximo”. De acordo com Vygotsky, a aprendizagem ocorre nesta zona. A zona do desenvolvimento próximo é a distância entre o nível actual de desenvolvimento e o nível de desenvolvimento potencial da criança. A criança pode percorrer tanto mais rapidamente essa distância quanto melhor for ajudada pelo professor, pelos colegas e pelo ambiente. Principal obra: Thought and Language (MIT Press, 1986).

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